Que 2021 traga amor na prática e sem teorias

Thiago Santos
3 min readDec 28, 2020

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O que é o amor? Bizarro é descobrir que, na vida adulta, para se explicar o amor é preciso falar da ausência dele.

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Se perguntamos para uma criança o que é o amor, ela vai falar de atos de carinho: “amor é quando mamãe me abraça”, “amor é quando meu amiguinho da escola me dá um pedaço do chocolate dele”. Na vida adulta isso muda, parece que a gente para de identificar o amor nas ações pequenas, nos doces atos.

Recentemente assisti o espetáculo on-line “O Amor é a (R)evolução”, dirigido por Rodrigo Polla e encenado por alunos da minha escola de teatro e me deparei com esta reflexão: o adulto só consegue explicar o amor, falando de sua ausência.

- Que? Como assim? Pois é!

Explicamos o amor apontando a falta dele, aliás não explicamos o amor, mostramos a sua falta ou necessidade como forma de explicação. “É preciso acabar com o preconceito e amar o outro”, “precisamos respeitar as diferenças e amar o próximo”, essas são só algumas frases que se usa para explicar o amor adulto. Mas esse sentimento plural tem explicação de fato? Acho que não, acho que é puramente sentido. Eu me senti amado vendo a peça, mas também me senti desamado quando foi mostrado no espetáculo o descaso com o nosso planeta, com as mulheres, com os LGBTQIs…quer dizer, o amor adulto é sentir a ausência, infelizmente, é no que o outro NÃO FAZ que identificamos o amor. Não quero dizer que o preconceito é amor, mas quero dizer que, só o sentimos quando recebemos o contrário. Muitas vezes, não valorizamos quem nos dá o mínimo gesto doce, quem compartilha o chocolate conosco, mas damos toda a atenção para os que nos machucam, os que nos ofendem. POR QUÊ?

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Existe uma expressão que diz “dar palco pra maluco” e essa é a realidade de 2020, demos muito palco pra maluco e isso nos fez um mal desmedido. Poderíamos ter propagado fotos de cachorros fofos, mas compartilhamos o "presidente" falando asneiras mais uma vez, poderíamos ter dividido com os outros, vídeos de uma mulher preta trans que chegou nas semi-finais do The Voice Brasil, mas preferimos viralizar que o nosso governo quer ver o pobre morrer de COVID. Será que era mesmo preciso? Será que demos palco pra maluco e não tivemos responsabilidade com o SENTIR do outro?

Se eu dei, não vou me desculpar, cada um lida com a loucura que é viver de um jeito, mas pra 2021 eu desejo DO FUNDO DO MEU SER, que a gente aprenda a ter RESPONSABILIDADE EMOCIONAL. Escolha compreender que o outro cansa, o outro sofre. Prefira mandar pro amigo preto uma mensagem dizendo “AMIGOOO, ACHEI ESSE YOUTUBER PRETO E ELE FALA TANTA COISA LEGAL. TÔ APRENDENDO TANTO!” ao invés de mandar “O que você acha do Black Lives Matter? Concorda?” ou “Você acha que isso foi assédio mesmo ou fulana tava de mimi?” “Foi preconceito mesmo ou fulano passou dá conta da militância?”. Estes fulanos e fulanas também CANSAM de falar, de explicar e de dar aula sobre amor e respeito.

Que em 2021 a gente não escolha só ser do bem, mas COMPARTILHAR MAIS o bem, afinal este ano a gente entendeu, mais do que nunca, que desgraça pouca é bobagem e que no mundo, contra nós (mulheres, pretos, LGBTQIs e pobres) TODOS, a favor de nós, só nós mesmos.

Não desejo muito para o ano que vem aí, eu só desejo poder SENTIR amor, mais do que falar dele. E desejo ter mais ar, afinal 2020 provou em vários sentidos, aqui e em qualquer outro lugar o quanto é difícil a gente RESPIRAR.

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Thiago Santos

Jornalista não praticante | Ator em formação | Social media| Redator.