Produzir é bom, mas a obrigação de fazê-lo pode ser tóxica
O conceito de produtividade precisa ser ressignificado para não fazer mal.
Não é de hoje que a gente esbarra com frases como “hoje fui muito produtivo” ou “o dia foi ruim, fui extremamente improdutivo”. O primeiro caso é sempre acompanhado de alegria e positividade, o segundo, de um desconforto e um sentimento de culpa enorme. Até que ponto isso está certo?
Produtividade quer dizer capacidade de desenvolver algo e muitas vezes a produção só é vista de acordo com os bens produzidos. O problema é que muitas vezes para valerem algo, esses bens precisam ser físicos e é aí que a coisa entorna. O indivíduo se sente prestativo quando cria algo, desenvolve um trabalho seja ele profissional ou ligado aos estudos. Nunca ninguém se sente produtivo por ver um filme, uma série ou assistir um documentário e refletir sobre.
O conceito atual de produção nunca valoriza a criação intelectual, a alimentação da mente e do bem-estar, isso é um erro gravíssimo numa sociedade repleta de tantas inseguranças, cobranças e surtos de ansiedade. Precisamos normalizar dias de lazer, dias em que não se "faz" nada, afinal relaxar, aliviar a mente e descansar, é produzir espaço nela, iluminar as ideias e facilitar que nosso corpo esteja mais disposto para as criações palpáveis.
Não produzir, também é produzir.
Muitas vezes, são nos momentos considerados de “improdutividade” que criamos melhor, surgem ideias, reflexões ou pelo menos inspirações. Isso só se faz possível porque sim, nós PRODUZIMOS enquanto estamos relaxando, a mente humana não para, mas quando relaxada, conduz melhor nossas ideias.
Precisamos parar de nos cobrar (o mundo já faz muito isso e em todos as esferas possíveis) e enxergar a “improdutividade” como uma maneira de estímulo/produção mental e desenvolvimento do nosso bem-estar, para que assim nos tornemos mais aptos para produzir os bens físicos que precisamos no trabalho, nos estudos e na vida como um todo.