Precisamos falar de cancelamento, mas antes é preciso entendê-lo

Thiago Santos
3 min readDec 8, 2020

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Baseado no conceito de boicote de marcas e figuras públicas, a prática acabou perdendo força e se tornando uma forma de linchamento e chacota na internet.

O cancelamento é um assunto recorrente na internet há alguns anos, porém muito se fala sobre o ato e pouco se entende de suas reais motivações e objetivos, muito disso se deve porque seus próprios criadores (o público), foram responsáveis por transformá-lo em chacota.

Ao que tudo indica o ato de ‘cancelar’, nasceu da ideia de boicotar algo ou alguém que ganha a vida com a imagem, que depende primordialmente da notoriedade para ganhar dinheiro. Quando falamos de marcas especificamente, no passado, os boicotes surtiam mais efeito, o que forçava as empresas a mudar alguns de seus posicionamentos quase que imediatamente. Isso ocorria, principalmente, quando motivado por assuntos mais “gerais”, temas que agrediam grande parte da sociedade, como a causa animal, por exemplo — empresas como Adidas, JBS e Air France tiveram problemas por isso.

Agora, quando o assunto são as figuras públicas, isso parece ser um pouco mais complicado e controverso. Foi a partir delas que o conceito desse boicote se perdeu, sem considerar CONTEXTO, “época” e posicionamento nos dias atuais, boa parte dos internautas começou a se pautar em declarações antigas para justificar mais do que um boicote, mas um linchamento virtual. O cancelamento deixou de ser uma maneira de apontar preconceitos e atitudes que ferem o público que consome conteúdos e trabalhos dos artistas e virou uma forma desmedida de destilar ódio.

É válido dizer que, além dos destiladores de ódio da terra sem lei, conhecida como internet, há aqueles que acreditam e praticam um cancelamento que visa “punir” para conscientizar, os que usam do público para enriquecer, mas pouco se importam com suas causas. Prática esta que, inclusive, foi eficaz para gerar aliados à muitas lutas e torna-las ainda mais públicas. Há ainda, os que cancelam para o bem próprio, por seus valores, decidem não dar dinheiro, tempo ou visualização para quem não os representa — forma de boicote usada para o bem e para o mau (a favor ou contra a diversidade na TV; Ou em apoio ou repúdio ao atual governo, por exemplo).

O ‘cancelar alguém’ começou como um ato de protesto em uma sociedade que no muito, só entende a necessidade de evolução e mudança quando se mexe diretamente NO BOLSO dela — está aí a comunidade LGBTQIA+ e/ou a negra que depois de anos de repúdio, hoje é vista como nicho de mercado extremamente lucrativo e ganha espaço midiático constante, mesmo contrariando os protestos de alguns.

Muitas celebridades, influenciadores e artistas tem sido alvo das tentativas de cancelamento, mas conseguem se "salvar", partindo do fato de que ‘errar é humano’ e que ninguém nasce sabendo. Neste caso, podemos sim, dar o benefício da dúvida às figuras públicas, contudo, é preciso se fazer uma análise contextual. Afinal, no século da internet — em que a informação nos bombardeia em todos os lugares — uma boa pesquisa no Google ou uma reflexão sobre a NECESSIDADE de dar certas opiniões ou declarações nas redes, pode evitar sujar uma imagem, que demorou anos para se construir e que pode ser destruída em segundos.

Se essa cultura é boa ou ruim? É eficaz ou não? Esta é uma resposta difícil de se dar com 100% de certeza, mas que ela tem forçado muita gente e muitas empresas a rever seus posicionamentos, estimulando algumas discussões válidas nas redes e de alguma forma, fazendo com que as mesmas, tenham medo de ter atitudes discriminatórias e preconceituosas, isso podemos dizer.

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Thiago Santos

Jornalista não praticante | Ator em formação | Social media| Redator.