Thiago Santos
3 min readOct 6, 2020

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Montagem feita a partir de imagens do Freepik e Google

A luta deve ser coletiva, mas o armário é individual

Ser LGBTQIA+ é ser parte de uma comunidade , mas mesmo o coletivo precisa respeitar o individual.

Colocar-se diante do mundo da forma que se é, é um dos maiores desafios do século da internet. Se antes já era difícil assumir sua sexualidade e/ou seu gênero, atualmente isso é ainda pior.

Hoje, diante de uma sociedade que ainda nos quer em silêncio, fazemos isso mais abertamente com o objetivo não só de nos libertar, mas de parar aqueles que nos querem escondidos. No passado se temia a família, os amigos, colegas de trabalho e pessoas com que se tinha algum convívio, agora, tememos o mundo e a sua “liberdade de expressão” on-line.

Não preciso exemplificar quantos atores e personalidades saíram do armário sob comentários (inclusive de pessoas LGBTs), tais como "pra sair do armário, tinha que estar nele" "só quem é cego não sabia que esse era gay". Engraçado é que nesses momentos as pessoas parecem esquecer que na infância, é justamente o fato de não performarmos comportamentos atrelados aos gêneros, que nos causavam o sofrimento e nos tornavam vítimas de bullying, a famosa “coisa de viado”, “coisa de sapatão”. Quantos de nós não foram puxados desse armário com violência, não foram pressionados a assumir algo que nem nós mesmo compreendíamos, só para dar para o outro o prazer dele estar certo: “não falei que era viado?”. E quantos de nós fazemos exatamente o mesmo agora?

Gritamos “não sexualizem as crianças!”, mas ao vermos um menino dançar com “trejeitos”, denominamos ele como “criança viada”? Ou vemos uma personalidade da mídia e logo dizemos “é claro que é gay, só que ele finge que não sabe…”.

Há ainda aqueles que criticam que se assume por meio de ações publicitárias e quem vão mais além nas críticas e tecem comentários sobre o patrocínio da marca “sair do armário com patrocínio e recebendo por isso é fácil”. Agora, eu vos pergunto: diante de tudo que vocês passaram quando se assumiram “de graça”, teria sido mais fácil se assumir por dinheiro? Eu respondo: sim e não!

Sim, porque ter dinheiro seria uma possibilidade de supostamente sair de casa, dar um primeiro passo para uma maior liberdade e de lidar com a falta de aceitação dos familiares. E não, porque sabemos que se assumir vai muito além de ganhar ou não dinheiro, é sobre se sentir amado, acolhido e respeitado, ser livre e não ter medo daqueles que são próximos de você, uma vez que, aqueles que não te conhecem vão te dar motivos de SOBRA para ter outros medos.

Se assumir é político em tantos sentidos, é necessário em tantas formas, e se feito publicitariamente, ainda ganha o valor de servir para causa como celebração do nós, do ter orgulho de SER. De saber que o mundo está mudando bem devagar, mas que essas mudanças têm nos feito um carinho, carinho este que na minha época eu não tinha, pois o que se vendia em todos lugares, inclusive na publicidade, era a segurança de se estar dentro de um armário e não o orgulho e a alegria de estar fora dele.

O respeito que se pede, também precisa ser dado. Entender, compreender e aceitar quem se é, é algo INDIVIDUAL e ponto. Cabe aos que estão fora do armário entender e se calar e aos que estão dentro, só saírem quando quiserem, porém sabendo que desde já, são muito amados, respeitados e acolhidos do lado de cá da porta.

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Thiago Santos

Jornalista não praticante | Ator em formação | Social media| Redator.